sábado, 13 de junho de 2009

Dia dos Namorados, sorvete e nirvana (ou: Sísifos que tutameian)

Para Ewerton e Gabriel, que ainda confundem sorvete com nirvana...


Sobrevivi! Ontem foi mais um Dia dos Namorados...
Mais um sozinho. Tudo bem, sem problemas. Ando cheio de coisas pra fazer. Logo cedo, após um banho e um café rápido, tento me equilibrar no ônibus para ler um livro do senhor Guimarães Rosa. Tarefa quase impossível. Como posso me equilibrar e concentrar num texto quase ilegível se ao lado duas cidadãs discutem o mais novo reality show da televisão? Quem vai sair da Fazenda? Afinal não estamos todos dentro deste verdadeiro curral que se tornou nossa cultura? Curioso, passamos do Grande Sertão do mesmo Guimarães, para a Fazenda da Mulher Melancia. Decadência cultural? Imagina, claro que não...
Chego a Cantirei, o Central Perk dos habitantes da Reitoria para tentar ler mais um pouco do livro. Lá está um grande amigo, também convocado para uma discussão literária rosiana.
-Olá!
Chega o terceiro membro do grupo. Mais um convocado:
-Pensamos que tinha esquecido...
O café comprado a força por mim, para o primeiro amigo, cai na mesa, molhando livros, manchando páginas, soltando o fio da meada...
Mudamos de mesa. Texto difícil.
-Vamos ler em voz alta?
Assim mesmo, difícil. Quase impossível não confundir sorvete com nirvana. Só pirando para entender o texto.
9 páginas depois, o senhor Guimarães tinha um soco reservado para a boca do nosso estômago.
Página 218:
- Sem amor, eu é que sou um Sísifo sem gravidade.
Silêncio.
Silêncio.
Olhares trocados. Nenhuma palavra.
Uma tentativa de quebrar o gelo:
- Nós somos Sísifos sem gravidade.
Três solteiros nocauteados por um livro de 1967.
Guimarães é foda!
- Terminamos na segunda feira?
- Sim, sim...
Teremos um novo soco no estômago reservado para nós? Certeza... afinal, é Guimarães.
A sexta feira aborígene só estava começando. Dia dos namorados, aniversário do meu pai que tanta falta faz...
Na volta para casa, início da noite, casais beijam-se e abraçam-se. Flores na mão, anéis novos. Beijinhos e risinhos. O Sísifo aborígene segue seu caminho para casa. Ainda tenho que ler mais um pouco de Guimarães...

Final de semana promete...

Penso em Augusto dos Anjos, outro aborígene:

"Falas de amor, e eu ouço tudo e calo!
O amor da Humanidade é uma mentira.
É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo
"

E tenho dito!