sábado, 4 de julho de 2009

Uma busca utópica (ou: Papéis velhos)

Um dia desses, remexendo numa caixa de guardados me deparei com um velho recorte de jornal no mínimo curioso. Não constava o nome do jornal, apenas o recorte de um texto. Abaixo, no final da página a data manuscrita a caneta, 1-12-84. Natal próximo? Começo de um novo ano? Talvez por isso o texto transpareça tanta emotividade. Quem o guardou na velha caixa? Não sei, apenas o publico aqui para que o apreciem:

PROCURA-SE:
“Procuro um amigo...
Procuro um amigo que sinta necessidade de estar sempre comigo;
Procuro um amigo que se lembre de mim quando estiver caminhando pelas ruas movimentadas;
Procuro um amigo que se lembre de mim ao escutar uma canção no rádio, dentro do carro, a caminho do trabalho;
Procuro um amigo que me presenteie, mesmo quando não é o meu aniversário;
Procuro um amigo que se lembre de mim ao ver um livro numa biblioteca, numa loja de livros usados;
Procuro um amigo que sinta vontade de telefonar para mim no meio da madrugada, apenas para jogar conversa fora;
Procuro um amigo que me dê um caloroso abraço ao me encontrar no meio da rua;
Procuro um amigo que assista a um programa de televisão comigo, mesmo não gostando, só porque sabe o quanto eu gosto do programa;
Procuro um amigo que me ligue no meio da tarde e me chame para sair, mesmo sem rumo certo;
Procuro um amigo que ria das minhas piadas, mesmo já as tendo escutado, ou mesmo que elas sejam infames;
Procuro um amigo que sem eu falar saiba o quanto estou triste;
Procuro um amigo que do nada comece a dançar, apenas para me animar;
Procuro um amigo que faça questão de me ver todos os dias, e mesmo isso não sendo possível, me telefone apenas para dar um alo;
Procuro um amigo que faça uma visita a minha casa, mesmo não tendo sido chamado;
Procuro um amigo que faça questão que eu participe de sua vida, de sua família;
Procuro um amigo que considere minha mãe a sua mãe, o meu pai o seu pai, os meus irmãos os seus irmãos;
Procuro um amigo que sempre seja visto nas festas de minha família, e que sempre me inclua nas festas da família dele;
Procuro um amigo que comente seus casos e descasos amorosos;
Procuro um amigo que se lembre de mim numa conversa com outros amigos;
Procuro um amigo que me inclua nas festas para as quais é convidado, mesmo que eu não conheça ninguém;
Procuro um amigo que saiba que eu sou humano, estou sujeito a errar sempre, mas mesmo errando estou tentando fazer o meu melhor;
Procuro um amigo para quem eu seja o melhor; que confie em mim, que compartilhe tudo comigo, as coisas boas, as coisas más;
Procuro um amigo, que saiba que pode esperar tudo isso de mim;
Procuro um amigo...
Um amigo...”
***
Não havia mais nada no velho recorte. Nem recortes posteriores. Mas tenho cá comigo que quem escreveu isto está até hoje procurando...
E tenho dito!


4 comentários:

  1. Uauuuu!!!
    A introdução é verdadeira???
    Se é, o escritor só o escreveu porque eu ainda não havia nascido, ehhehe!!! Pois com certeza eu riria das piadas, mesmo já as tendo escutado ou mesmo que elas fossem infames. E tbm tenho dito!!! ;)
    (by Tiça)

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  2. Muito difícil achar um amigo desse que procuravam em 1984...
    E a busca por essa perfeição humana é ainda anterior a esta data!!!
    Mas fazer o quê... temos que manter os amigos cheios de defeitos, mas que ainda se mostram do nosso lado quando preciso!!! Quem sabe o tempo faça mais humanos os seres humanos!!!

    E viva os textos do autor garotinho!

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  3. Hola! Me gustaría contactar con. Autor de este blog. Puede escribirme a celiaboletin@gmail.com? Gracias

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